Sonho de Uma Noite de Verão

A assinalar os 400 anos da morte de Shakespeare, a Orquestra XXI voltou a reunir-se em Portugal para a sua 7ª Digressão, centrada no “Sonho de Uma Noite de Verão”. Mendelssohn escreveu uma das suas mais célebres obras para acompanhar a peça de Shakespeare, da qual o actor Ricardo Pereira narrou excertos, num concerto que incluiu também a Suite do bailado “Pulcinella” de Stravinsky e a peça “Acanto” da jovem compositora portuguesa Andreia Pinto-Correia, que tem desenvolvido um percurso relevante nos Estados Unidos da América. Pela primeira vez, a Orquestra XXI alargou-se também a cantores, com a criação de um Coro de Câmara formado por cantoras portuguesas residentes no estrangeiro, que interpretaram as Fadas de Shakespeare, para quem Mendelssohn escreveu duas canções.

 
 

Sonho de Uma Noite de Verão - Felix Mendelssohn

Felix Mendelssohn, um dos maiores prodígios da história da música, começou por escrever a abertura para o Sonho de Uma Noite de Verão com apenas 17 anos, depois de ler a tradução de August Schlegel da peça de Shakespeare. A abertura foi imediatamente considerada uma obra-prima e é notável pela sua originalidade e pela forma como representa as várias personagens da peça. Vários anos mais tarde, quando Mendelssohn era já um compositor de referência e director da Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, escreveu o resto da música para cena desta obra, a pedido do Rei da Prússia, para uma produção em Potsdam em 1843. Os vários temas da abertura (a música das fadas, o tema dos amantes e mesmo a música dos rústicos) aparecem isolados em vários momentos da peça, para além de vários andamentos novos como a Canção das Fadas, o famoso Scherzo e a sua mais célebre composição de sempre, a Marcha Nupcial.

Nestes concertos, iremos apresentar uma grande parte da música para cena, intercalada com excertos da peça de Shakespeare, numa tradução de Maria João Afonso, narrados pelo actor Ricardo Pereira. 

 

Acanto - Andreia Pinto-Correia

A jovem compositora Andreia Pinto-Correia nasceu em Lisboa e vive há vários anos nos Estados Unidos da América, onde tem desenvolvido uma importante carreira. A sua música foi descrita como "poderosamente cativante e meditativa" pelo The Boston Globe, e tem tido obras tocadas por orquestras como Minnesota Symphony Orchestra e Berkeley Symphony Orchestra, e encomendas de instituições como a League of American Orchestras, Tanglewood Music Centre e a Presidência da União Europeia. 

Acanto, a sua primeira obra para orquestra, parte da ideia de um ornamento quase sempre arquitectónico inspirado nas folhas de uma planta comum nas zonas húmidas do Mediterrâneo (acanthus mollis). A ideia de "a canto" também serve de base na manipulação de uma célula melódica simples, um ornamento que viaja através da obra, aparecendo em diferentes instrumentos ou combinação de instrumentos, registos, timbres, e mutações rítmicas. Ou seja, os três andamentos da obra representam realizações texturais do mesmo ornamento. Por vezes, algumas características específicas de determinado andamento são utilizadas noutros contextos através das suas fronteiras, resultando no uso dos conceitos de memória e antecipação. Acanto foi encomendada pela Ear Shot/American League of Orchestras Fellowship e estreada pela Orquestra Sinfónica de Memphis em 2009.

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Suite Pulcinella - Igor Stravinsky

Stravinsky escreveu que a composição de “Pulcinella foi a minha descoberta do passado, a epifania que tornou possível todos os meus trabalhos tardios. Foi um olhar para trás, claro - o primeiro de vários casos amorosos nessa direcção - mas foi também um olhar no espelho.” Para além de ser a sua primeira obra do período neo-clássico, é também a mais célebre. O empresário Sergei Diaghilev tinha encomendado um bailado inspirado na comedia dell’arte, mais especificamente numa obra que se julgava escrita por Giovanni Pergolesi, que Stravinsky re-utilizou de várias formas, por vezes imitando melodias, outras vezes ritmos ou texturas, mas deixando sempre a sua marca em cada um dos andamentos. O bailado contém vinte danças diferentes, algumas delas com cantores solistas, mas a suite que iremos apresentar concentra-se na música orquestral, com oito danças em que cada instrumento da orquestra tem um momento para brilhar.